Segundo Yoshi Oida (ator e escritor japonês) em seu livro ‘’O Ator Invisível“, a arte da interpretação caminha lado a lado com as artes marciais. Para ele, tanto ator como artista marcial têm de seguir com os treinamentos físicos de forma disciplinada e aplicada e ambos têm de estudar diferentes formas de artes como canto, dança, artesanato e, principalmente, as diferentes situações em que se encontrariam: a tensão de um combate ou de atuar.
Estas comparações podem ser explicadas de maneira bem simples. Segundo os grandes mestres de Kung Fu, não existe artista marcial que não seja inteligente. Ele pode ser mal treinado ou não estar maduro o suficiente, e não saber como pensar em determinadas situações; mas um experiente e bem treinado “Artista Marcial” de fato saberá como agir e pensar independente da situação em que se encontre.
Com o ator não é muito diferente: ele deve ser capaz de agir e pensar de maneira rápida e sagaz enquanto estiver nos palcos ou aguardando nas coxias; deve ser capaz de perceber, mudar de planos e tomar a atitude mais coerente nos palcos quando alguma coisa não sair como havia sido planejado durante os ensaios.
Os antigos samurais (guerreiros imperiais do Japão antigo) priorizavam a “limpeza”. Não só a limpeza física (do espaço ou do corpo), mas principalmente a limpeza da mente e do movimento, a concentração total e a perfeição alcançada nos mínimos detalhes. Isto só se alcançava com muito treinamento e principalmente com a prática incansável da repetição. O treinamento físico do ator não é muito diferente: é necessário muita dedicação e determinação para atingir os níveis de perfeição e precisão de movimento que o ator precisa a fim de expressar-se com verdade durante a atuação.
Tanto a arte marcial quanto a arte da interpretação são baseadas principalmente na busca do auto-conhecimento e do desenvolvimento interior, uma vez que é necessário gerar mudanças internas e externas para ambas as artes.
Nas camadas mais profundas da conscientização corporal, temos uma série de fatores psicomotores que interferem diretamente no controle das nossas expressões. Quando bem treinados e com um nível de alta concentração, o ator se torna capaz de falar sem emitir palavras, mover-se sem movimentos, calar-se sem silêncio.
O ator, assim como o artista marcial, trabalha a vida toda em busca do aperfeiçoamento técnico e da fluidez psicofísica. Isto requer uma grande habilidade e prontidão, mantendo assim sua interpretação sempre viva.
Flexibilidade do corpo e da mente, força física e espiritual, capacidade de ler o outro apenas pelo corpo assim como a de se comunicar com apenas um simples olhar, são características e qualidades que ambos, ator e artista marcial possuem quando atingem o auge do seu treinamento.
Entendemos, assim, que duas artes distintas podem ter suas semelhanças. Embora haja diferentes formações e gêneros de atores e artistas marciais, aqueles que estudam a arte como um todo, chegam mais perto de encontrar um ponto de interseção entre elas, e percebem que, acima de tudo, todas as artes (plásticas, dança, música, etc) estão ligadas, unidas, e complementam-se umas às outras.
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Postado por Ederson Porto
foto: Cia Vida
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